Para Cavalcante (2001), a pedagogia – arte utilizada para se fazer educar e orientadora da ação interventiva do professor na sua ação educadora, constitui-se enquanto área de conhecimento para atender a demandas, de acordo com os interesses da sociedade, de modo a orientar, conforme estas, o que deve ser ensinado e para quem.
O processo educativo socializa os conteúdos, mas também, traduz a dinâmica vivida em sociedade, repassando a cultura de uma geração a outra de diferentes maneiras para o desenvolvimento das potencialidades físicas, intelectuais e afetivas.
A educação, de modo geral, propõe ensinar a pensar; a Educação Biocêntrica propõe educação para o não controle. Educamos a nós mesmos a partir do respeito à vida, não com distanciamento dela, mas, nela inseridos. A vida é o modelo de educação. Todos somos, portanto, construtores e sujeitos de nosso próprio conhecimento, aprendendo a viver com a infinitude de possibilidades que temos em nós mesmos e que a vida nos oferece.
Desse modo, a Educação Biocêntrica rompe com o pensamento estruturalista-funcional, com a dialética, com o idealismo, propondo um modelo educacional de inclusão distributivo. Ela é ampliadora da visão de mundo e não restritiva.
A ação pedagógica proposta pela Educação Biocêntrica possibilita ao educando ser sujeito consciente do seu próprio processo educativo, promove o encontro, o diálogo, objetivando uma sociedade mais justa e harmonizada socialmente para a evolução da vida.
Para Olivier (2004), todo aprendizado é um processo associativo, não necessariamente lingüístico, e, portanto, sua qualidade depende da capacidade associativa de estímulos ou de processos, de incentivo e da operacionalidade dos sistemas associativos e de suas interconexões. A partir de dois ou mais estímulos sensoriais, tem-se a aglutinação de informações para a formação de um conceito, que é uma terceira informação diferente das que lhe deram origem.
A aprendizagem envolve também dois diferentes conceitos (Olivier 2004):
- aprender: significa associar processos simples a processos simples, originando formas de processamento mais complexa; reter na memória mediante o estudo, a observação ou a experiência, ou seja, correspondendo mais ao que se convencionou localizar no departamento de inteligência verbal ou raciocínio lingüístico, no sentido lógico-formal e concreto. Aprender é decorrente de um processo educativo.
- apreender: significa assimilar mentalmente, entender, compreender; estando, portanto, mais adequado para descrever o aprendizado não-verbal no sentido abstrato, inconsciente ou tridimensional.
Segundo Almeida, citado por Cavalcante (2001), a verdadeira pedagogia é o encontro – instante vivido, lugar de realização do humano, sendo este um saber que não pode ser ensinado, somente apreendido.
A vivência ontológica é essencial na Educação Biocêntrica. Partindo do pensamento de Andrade e Arraes (in Cavalcante, 2001), esta vivência envolve diversos aspectos e resultados:
a) origina-se da reflexão profunda sobre o princípio biocêntrico, da compreensão e apreensão do universo como um sistema vivo e, portanto, de valorização da vida;
b) resgata nossa essência instintiva que promove harmonia e equilíbrio vital;
c) proporciona a vivência de emoções legítimas;
d) proporciona o fortalecimento da identidade do educandos e do educador por meio da dinamização de seus potenciais humanos;
e) reeduca as diversas formas de expressão e contato voltadas para uma ação saudável no mundo;
f) valoriza o desenvolvimento da auto-regulação e da vitalidade em geral para o desenvolvimento do trabalho em grupo;
g) coloca o processo educacional como um ato amoroso de transformação pessoal e social;
h) sensibiliza para a importância do trabalho em grupo;
i) desenvolve a integração intra e interpessoal;
j) promove o fortalecimento do sentimento de comunidade;
k) proporciona melhoria na qualidade de vida das pessoas.
A Educação Biocêntrica propõe-se a promover um importante movimento evolutivo, pois compreende a realidade, a partir do pensamento complexo que envolve a corporeidade vivida com todas as dimensões da interação do ser humano consigo mesmo e com o meio, formando uma ampla e profunda rede interacional de aspectos cerebrais, biológicos, físicos, psicológicos, emocionais, racionais, culturais, sociais, históricos, políticos, religiosos, ecológicos. É a aprendizagem corporeificada, vivenciada integralmente e verdadeiramente, sem o que, volta-se ao ensino verticalizado bancarista – que deposita o conhecimento no outro.
Superando a visão antropocêntrica do ser humano que egocentricamente coloca a vida a seu serviço, a Educação Biocêntrica, compreende o ser humano enquanto morada da vida – um sistema multidimensional de energias que possui em si mesmo infinitas possibilidades (Cavalcante, 2001: 137).
A Educação Biocêntrica propõe, então, o desenvolvimento do ser humano pautado no respeito à vida enquanto força originária de si mesmo, do outro e de tudo que existe fomentando o despertar dos potenciais genéticos, como afirmou Luckesi (Apud Cavalcante, 2001: 56): “a alma do planeta está em todos nós em busca dos caminhos da vida”.
A referência a desenvolvimento humano deve ser entendida não no sentido de evolução linear, mas enquanto processo dinâmico dentro da compreensão da interação complexa entre os sistemas viventes e não-viventes.
O método proposto pela Educação Biocêntrica é participativo-vivencial o qual tem sua essência na visão coletiva e cooperativa, de modo a favorecer os três âmbitos de vinculação:
- consigo – ampliando a consciência e proporcionando clareza da utilização real dos conhecimentos desenvolvidos na sua vida e na dos outros;
- com o outro – estimulando trabalhos cooperados em duplas/parcerias;
- com o meio – fomentando trabalhos que, essencialmente, cuidem da natureza.
Todos participam reflexiva e dialogicamente da construção dinâmica do conhecimento. Portanto, sua metodologia é includente e vinculada contextualmente com a realidade dos participantes e com a existência global.
Para tanto, os encontros que objetivam a reculturação devem ser realizados utilizando-se palavras geradoras, vivências, círculos de cultura, aulas-passeio, recursos didáticos que promovam um ambiente alegre, saudável, ecológico e com a participação ativa de todos (artes em geral são privilegiadas para o desenvolvimento do potencial criativo: pintura, desenho, música, dramatização, argila, colagem, exposição, reaproveitamento de materiais, redação, poesias, fábulas).
A avaliação na Educação Biocêntrica, segundo Andrade e Arraes, (in Cavalcante, 2001), em conformidade com seus princípios norteadores é:
- diagnóstica: possibilitando a identificação de erros e acertos ocorridos no processo ensino-aprendizagem;
- dinâmica: superação das dificuldades por meio de soluções viáveis (grupos de estudo, monitoria, aperfeiçoamento da aprendizagem);
- dialógica: estabelecendo um diálogo contínuo educador-educando para conhecimento das hipóteses levantadas por este e verificação de objetivos desejados;
- diversificada: utilizando instrumentais diversos dando ênfase à auto-avaliação (seminários, aulas simuladas, dramatização, pesquisas, relatórios de aulas de campo, observações do cotidiano, leitura da realidade e outros).
O processo ensino-apendizagem na Educação Biocêntrica é dinâmico, ressignificando-se de modo teórico-dialógico-reflexivo-vivencial, enfatizando a afetividade como fortalecedor dos vínculos e a criatividade como geratriz da inovação, de modo a operar uma transformação individual e social da realidade por meio do diálogo com o outro e de sua expressão no mundo baseada na compreensão do conhecimento em rede, no qual estão interconectados todos os conceitos, teorias e práticas. Para Cavalcante (2001: 10), “sua prática pedagógica está voltada para valorizar as dimensões do espírito e do afeto cultivando a inteligência afetiva numa reeducação para a vida”.
O desenvolvimento da afetividade e da criatividade no processo educacional é essencial para que o educando seja uma pessoa integrada afetivamente, socialmente e cognitivamente.
Andrade muito bem definiu a importância da Educação Biocêntrica:
Na medida em que reflete sobre o Princípio Biocêntrico, a Educação Biocêntrica coloca a vida como o centro, melhorando conseqüentemente a qualidade de vida dos homens, dando ênfase ao processo educacional como fator de transformação pessoal e social e como um ato amoroso (2003: 26).
O papel do educador biocêntrico é o de mediador/facilitador do processo ensino-aprendizagem, o qual não interfere diretamente no grau de envolvimento dos vínculos gerados no grupo. A relação educador-educando é amalgamada pela amorosidade que deve ser sempre dinamizada, de modo a que a construção do conhecimento se resulte contextualizado, consciente, com base no princípio biocêntrico de amor à vida. O educador biocêntrico, portanto, deve vivenciar plenamente o respeito a si mesmo, ao outro e à vida.
Outro preceito importante, defendido pela Educação Biocêntrica, é o aprendizado em grupo, de modo a possibilitar uma construção dialógica do conhecimento enriquecida pela contextualização da realidade de seus integrantes, permitindo que o mesmo seja sempre renovado na dinâmica do diálogo construtivo – pessoa-grupo-meio social –, gerando a transformação necessária da realidade, conforme perspectivas originadas no meio fermentador do grupo e propiciado pela metodologia vivenciada na Educação Biocêntrica.
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