sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A expressão dos potenciais biológicos e a vivência da identidade saudável

Segundo Toro (2002), as estruturas orgânicas, as funções vitais, a forma e a constituição corporal expressam as potencialidades genéticas, sendo as emoções, os sentimentos e as vivências suas expressões psicológicas. Os sistemas vivos são compreendidos como neguentrópicos, isto é, sistemas abertos com capacidade de renovação, sem perder o que lhes caracteriza essencialmente.Após vários anos de estudos e pesquisas fenomenológicas sobre vivências na Biodanza, Toro chegou à tese de que:

Todos os aspectos da vida humana, considerados tradicionalmente como integrantes da esfera psíquica, têm uma origem biológica. Eles são gerados no coração dos processos celulares, e chegam por diferenciação à qualidade de impulsos, de pulsões e de instintos, e se transformam, no homem, em vivências, emoções e sentimentos (2002: 84).

Ainda a partir de suas pesquisas, Toro (2002) encontrou correspondência entre a expressão das potencialidades genéticas e as principais aspirações humanas, chegando a cinco modalidades da referida expressão, as quais denominou linhas de vivência, que, segundo ele, têm sua origem na experiência original intrauterina, denominada por Jung como "experiência oceânica”, cuja diferenciação tem sua origem nas protovivências[1] caracterizadas pelas respostas aos estímulos internos e externos. É sobre a impressão deixada pelas protovivências que a vivências posteriores se desenvolverão.

Somos uma organização orientada por um vir a ser contínuo mediado pela relação com o outro e com o meio, gerando, assim, o ciclo permanente da auto-organização, através da interconectividade caracterizada na relação sistêmica, significando o que nominamos de Princípio Biocêntrico retratado na evolução estimulada pela relação entre o Uni e o Verso = Universo, ou seja, revelando o todo sistêmico, a Vida (Cavalcante, 2001: 103).

Ainda segundo Cavalcante, quando expressamos por meio da vivência os potenciais genéticos (ou biológicos), “fortalecemos o nosso vínculo com a vida, e vinculados com a vida, ampliamos a nossa consciência através da autopoiese, assumindo, assim, verdadeiramente, a condição de sujeitos da nossa aprendizagem” (2001: 100).

Os potenciais genéticos são expressos nas linhas de vivência que movimentam-se em processos evolutivos, orientadas por níveis de mudanças e manifestam-se em nossa expressão da vida como Ser de relação em sistema, conforme a seguir explanadas, segundo Toro (2002) e Cavalcante (2001):

a) Vitalidade: envolve a saúde, ímpeto vital, alegria de viver. Esta linha é gerada a partir de funções de regulação da atividade e do repouso e que mantém a homeostase[2], compreendendo os instintos de conservação, de fome, de sede, respostas de luta e fuga, o inconsciente vital. São indicadores de vitalidade: resistência ao esforço, vitalidade do movimento, estabilidade neurovegetativa, potência dos instintos e o estado nutricional. Características externas que podem expressar a vitalidade: facilidade para rir, agilidade dos movimentos, som e expressão da voz, brilho e intensidade do olhar, harmonia e vigor dos gestos.

b) Sexualidade: envolve o prazer sexual, reprodução, vínculo sexual, prazer, sensualidade, contato; compreende o instinto sexual, o orgasmo, o desejo e a busca do prazer, as múltiplas emoções envolvidas na satisfação sexual, cuja finalidade biológica é a reprodução. Um intenso desejo sexual mobiliza o organismo por inteiro; é a sensibilidade global aos estímulos do prazer (pelos alimentos, pelo banho, pela brisa, pela chuva, pelo carinho, pelo beijo, pelo toque terno, pela dança, pela música, etc.).

c) Criatividade: envolve a inovação, construção, imaginação, instinto de exploração; somos, ao mesmo tempo, a mensagem, a criatura, o criador; incentivo aos impulsos criadores naturais – "nossa grandeza se encontra em nossa vida"; a natureza é um eterno ato criativo.

d) Afetividade: refere-se ao amor, amizade, altruísmo, empatia; relacionada ao instinto de solidariedade dentro da espécie, capacidade de empatia, aos impulsos gregários, às tendências altruístas e aos ritos socializantes. Difere da vivência em complexidade e por permanecer ao longo do tempo; implica a participação da consciência, da memória e da representação simbólica; afetividade é um estado de afinidade profunda para com os outros seres humanos.

e) Transcendência[3]: envolve a ligação com a natureza, sentimento de pertencer ao universo; a procura de harmonização com a natureza em sua totalidade; é uma função biológica e culmina na experiência suprema de identificação com o universo. O impulso místico é visceral, sendo a experiência mística a provocadora de profundas transformações na homeostase, no nível orgânico e no nível existencial; refere-se à superação da força do próprio Eu e à possibilidade de ir mais além da autopercepção, para identificar-se com a unidade da natureza e a essência da pessoa; sensação de ligação íntima com a natureza e com o próximo.

É na vivência integradora das linhas de vivência mencionadas por Toro (2002) que o aprendizado acontece numa interação processual contínua, não estanque, mundo interno/mundo externo onde ambos interagem, modificam a si mesmos e modificam o outro.

Ao final deste Blog, encontra-se o Quadro 5 – Expressões dos potenciais genéticos e as linhas de vivência, adaptado pela autora deste trabalho, o qual apresenta de modo resumido e simples uma visão mais abrangente da expressão das potencialidades humanas em cada linha de vivência com seus princípios e características.

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[1] Experiências do recém-nascido nos seis primeiros meses de vida.

[2] Refere-se ao equilíbrio das forças que mantém o organismo. (Toro, 2002)

[3] Transcender é a possibilidade de ser diferente, de fazer de outro modo, de romper e ir além do estabelecido.

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Fonte: SAMPAIO, Irene Nousiainen. Organização Biocêntrica - emergência de um novo paradigma na administração. Fortaleza, 2005. 116 p. Monografia (Especialização em Educação Biocêntrica - A Pedagogia do Encontro) – Universidade Estadual do Ceará.

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