domingo, 12 de agosto de 2007

Paralelos entre alguns principais pensadores modernos da educação e a organização biocêntrica

A fonte de conhecimento para as pessoas não é somente a escola. Ela é apenas um dos ambientes em que ocorre a aprendizagem. Igualmente importantes são: a família, os amigos, a igreja, os meios de comunicação, as organizações, os grupos sociais, etc.

No que diz respeito às organizações, apresentamos uma adaptação [1] feita para as mesmas, de alguns conceitos da educação que foram concebidos para o ambiente escolar. Esta adaptação partiu de algumas das mais importantes idéias defendidas por alguns pensadores modernos da educação:

Edgar Morin

– Defende a interligação dos saberes – a transdisciplinaridade.
Na organização, os saberes devem ser colocados de modo interligado, transdisciplinarmente. Na visão complexa tudo é co-dependente.

– Critica o ensino fragmentado.
Na organização, a especialização das tarefas levou à perda de visão da organização como um todo. A participação de todos na organização com a compreensão da diversidade para a unidade de modo cooperado é essencial.

– Sem uma reforma do pensamento, é impossível aplicar as novas idéias a parir da complexidade.
Na organização, a cultura organizacional deve ser estimulada de modo a que as pessoas possam compreender e vivenciar a complexidade, a partir do entendimento de que a simplificação leva à perda de visão do todo.

Philippe Perrenoud[2]

Autor de muitos livros sobre temas complexos e atuais na área da educação, Philippe Perrenoud, assim define competência: “é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar uma série de situações” (Nova Escola, 2002: 21).

– Com as 10 novas competências para ensinar, ele relacionou o que é imprescindível saber para ensinar bem onde o conhecimento está cada vez mais acessível.

Na organização, as dez competências foram adaptadas para serem aplicadas, em especial, a gestor(es) e líder(es) não se excluindo dos processos, com isso, todos da organização.
1) Organizar e dirigir situações de aprendizagem para o estabelecimento de processos.
2) Administrar a progressão das aprendizagens.
3) Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
4) Envolver as pessoas da organização em suas aprendizagens e em seu trabalho.
5) Trabalhar em times com o sentido de diversidade que compõe a unidade.
6) Participar da administração.
7) Informar e envolver a família das pessoas da organização.
8) Utilizar novas tecnologias.
9) Compreender os deveres e os dilemas éticos de cada profissão.
10) Administrar a própria formação.
11) Colocar a sensibilidade e a afetividade nas suas ações.

César Coll [3]

– Um plano curricular precisa satisfazer, de forma articulada, todos os âmbitos de funcionamento de uma escola, não separando o que cabe ao professor do que é responsabilidade dos alunos. O que importa é o que o aluno efetivamente aprende, não o conteúdo abordado pelo professor.

Na organização, o planejamento deve ser participativo para que, de forma articulada, seja legítimo, envolvendo todos os núcleos de funcionamento da organização. O bom funcionamento de um planejamento depende não só do gestor ou do líder, mas de todos os funcionários, coordenadores, gerentes e diretores e, se necessário, de organizações parceiras. Se o planejamento construído tiver relação com a vida do funcionário, com a sua visão de mundo, o êxito será ainda maior.

Nóvoa [4]

– Nenhuma reforma educacional tem valor se a formação de docentes não for encarada como prioridade.
Na organização, nenhuma mudança organizacional obterá êxito se a formação de seus gestores e líderes não for encarada como prioridade. Isso vale também para a implementação do planejamento.

– O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente.
Na organização, o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a organização, como lugar de crescimento profissional permanente. Portanto, a formação deve ser continuada, contextualizada, coletiva e depende da experiência e da reflexão como meios contínuos de análise.

Bernardo Toro [5]

– Partindo de sua visão sobre as realidades social, cultural e econômica, Toro elaborou os Códigos da Modernidade – uma lista na qual são identificadas sete competências consideradas necessárias para serem desenvolvidas nas crianças e nos jovens para que eles tenham uma participação mais produtiva no século XXI.

Na organização, os Códigos da Modernidade se adaptam a todos que a compõem, e por ela devem ser incentivados:
1) domínio da leitura e da escrita;
2) capacidade de fazer cálculos e resolver problemas;
3) capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações;
4) capacidade de compreender e atuar em seu entorno social;
5) receber criticamente os meios de comunicação;
6) capacidade de localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada;
7) capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo;
8) capacidade de desenvolver uma mentalidade internacional.

Estas competências valorizam o saber social enquanto conjunto de conhecimentos, práticas, valores, habilidades e tradições que possibilitam a construção das sociedades e garantem as quatro tarefas essenciais da vida: cuidar da sobrevivência, organizar as condições para conviver, ser capaz de produzir o que necessitamos e criar um sentido de vida. Dessa forma a organização contribui para que a pessoa nela inserida possa atuar vivencialmente dentro e fora dela, de modo crítico e construtivo.
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[1] Adaptação feita pela autora a partir do artigo "Os Novos Pensadores da Educação" (Nova Escola, ed. 154, agosto/2002).
[2] Suíça (1944 - ). Doutor em sociologia e antropologia, é atualmente professor na Universidade de Genebra nas áreas de currículo, práticas pedagógicas e instituições de formação (Nova Escola, ed. 154, agosto/2002).
[3] Professor de Psicologia Evolutiva e da Educação, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Barcelona. Foi um dos principais coordenadores da reforma educacional espanhola e consultor do MEC na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, no Brasil (Nova Escola, ed. 154, agosto/2002).
[4] Doutor em Educação e catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (Nova Escola, ed. 154, agosto/2002).
[5] Vice-presidente de relações públicas da Fundação Social, entidade civil cuja missão é combater a pobreza na Colômbia. Dirige há oito anos um programa de educação social e preside a Confederação Colombiana de ONGs. Sua principal contribuição é construir uma ponte entre as sociedades modernas em constante transformação, e o mundo da escola, que tem diante de si a tarefa de formar os cidadãos (Nova Escola, ed. 154, agosto/2002).
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Fonte: SAMPAIO, Irene Nousiainen. Organização Biocêntrica - emergência de um novo paradigma na administração. Fortaleza, 2005. 116 p. Monografia (Especialização em Educação Biocêntrica - A Pedagogia do Encontro) – Universidade Estadual do Ceará.

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