sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Banco Palmas - em Fortaleza

O bairro Conjunto Palmeiras, de Fortaleza, tem moeda própria. No local, tudo pode ser adquirido com o "Palma". O dinheiro é alternativo e de uso exclusivo no Banco Palmas, uma instituição de crédito montada pela Associação dos Moradores com o apoio de ONGs.

O Palma foi criado para circular a riqueza dentro do Conjunto Palmeiras. Cada Palma equivale a R$ 1. Os moradores conseguem a moeda com o próprio trabalho ou com empréstimo do banco. "As pessoas adquirem Palmas trabalhando, prestando algum serviço e, com isso, podem comprar em qualquer comércio do bairro", explica Joaquim de Melo Neto, coordenador do Banco Palmas.

A família de dona Raimunda, viúva, mãe de oito filhos e chefe da casa, vive sem conforto, mas comida nunca falta. Ela compra tudo nos mercadinhos do bairro. O dinheiro que ela ganha como artesã, poucos conhecem. É o Palma. "Os Palmas que eu recebo valem como dinheiro. Eu compro, pago funcionário e faço novas aquisições para o meu mercadinho normalmente, como se fosse dinheiro", explica o comerciante Francisco Bezerra.

O Conjunto Palmeiras, criado há 30 anos, já foi uma favela. Foram os próprios moradores, cerca de 30 mil habitantes, que construíram as casas, as ruas e até a rede de esgoto. O banco foi aberto há seis anos e a renda da população cresceu com o acesso ao crédito. Os moradores, endividados, agora podem fazer empréstimos. Para o dinheiro ficar no bairro, eles recebem e pagam, de preferência, em Palmas. O valor pode ser devolvido em até seis parcelas.

Juros baixos
"Num banco na cidade, a gente precisa ter o nome limpo no SPC e Serasa. Além disso, os juros são altíssimos, enquanto aqui no banco do bairro, os juros são totalmente inferiores a um outro banco qualquer", elogia a moradora Elinete da Silva.

O juro baixo é só uma das facilidades. O banco também dá um cartão de crédito para os bons pagadores. "Antes, eu sentia o constrangimento de pedir para vender fiado no comércio. Hoje, eu chego com o cartão e posso comprar", conta a moradora Maria Cardoso.

O comerciante Pedro Alves diz que ele ficava receoso de vender para a população, com medo da inadimplência. "Hoje, temos a garantia do pagamento com esse cartão de crédito. Desta forma, o comerciante tem o aumento nas vendas e população também se beneficia através disso".

Além de trazer crédito à comunidade, o banco da Associação de Moradores investe em novos negócios no Conjunto Palmeiras. Um grupo de mulheres, por exemplo, já conseguiu um empréstimo de R$ 15 mil para comprar máquinas de costura. Com isso, passaram a produzir e criaram a grife Palma Fashion. Hoje, lançam moda no bairro com roupas jovens para homens e mulheres. Para desenvolver as coleções, as 12 costureiras receberam consultoria do Sebrae.

"Com os cursos de modelagem e de design, ocorre a melhora no produto. Assim, o mercado, que é bastante competitivo e exigente, passa a ter um produto de qualidade a um preço competitivo também", conta Rafael Albuquerque, técnico do Sebrae no Ceará.

As roupas da confecção são vendidas em pequenas lojas dentro e fora do bairro. Cada costureira já ganha, em média, 270 Palmas por mês.

Fabricar produtos de limpeza foi a alternativa encontrada pelos jovens do Conjunto Palmeiras para enfrentar o fantasma do primeiro emprego. "Nós fomos atrás de emprego no mercado de trabalho, não encontramos e decidimos colocar alguma coisa que pudéssemos trabalhar para nós mesmos", diz a gerente de marketing Otaciana Barros.

Com ajuda do Sebrae, os jovens contrataram um químico e criaram os produtos. Todos são distribuídos nos mercadinhos do bairro e o pagamento, é claro, é em Palmas. Com o apoio do Banco Palmas, 1.200 mil empregos foram criados no bairro. A comunidade melhora a renda, cria raízes e desenvolve a cultura, fazendo uma economia solidária. As informações são da Agência Sebrae.

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