domingo, 12 de agosto de 2007

Meios importantes para uma organização biocêntrica


Na concepção de Educação Dialógica, proposta por Paulo Freire, círculo de cultura é um espaço circular, dialógico, reflexivo e participativo de expressão do ser, cuja individualidade é reconhecida no coletivo (Cavalcante, 2001; Andrade, 2003). No círculo de cultura, o educando parte da codificação da realidade para sua decodificação para, após, tornar a codificá-la.
A importância de o grupo estar em círculo reside no fato de que nesta conformação ninguém está superior ou inferior a ninguém, inclusive o facilitador. O diálogo realizado em torno de questões do universo cultural das pessoas do grupo torna-as sujeitos críticos de suas realidades.
Para que o diálogo se estabeleça é essencial o estabelecimento de um clima de confiança, respeito entre todos e descontração. Assim se realiza (Cavalcante, 2001):

- pessoas em círculo: as pessoas colocam-se sentadas em círculo para que todos se vejam e se coloquem como iguais. Não há prevalecimento de pessoas ditas com mais saberes. O educador apenas facilita o processo de aprendizagem que é dialogicamente construído, sabendo-se que ninguém tem a verdade.

- palavras geradoras: são utilizadas fichas que contenham palavras de significado para a vida daquelas pessoas. As fichas são espalhadas no chão e cada pessoa do círculo que sentir-se atraída por uma das fichas a reserva para si.

- A leitura das fichas é feita para o grupão de modo a proporcionar uma releitura do seu significado (interpretações e significados diferentes, conforme a realidade contextual de cada pessoa), com apresentação da teoria por meio de vivência de quem está apresentando.

- Tudo o que foi dialogado é anotado para, ao final, ser produzido um texto contendo as palavras geradoras.

O círculo de cultura tem grande importância pedagógica por possibilitar a participação de todos, estimulando a autonomia e a elevação da auto-estima, e também, por gerar uma consciência crítica e socializada acerca da realidade de cada um do grupo.



Biodança

Por ser um sistema de integração humana que exige um profundo conhecimento teórico para sua aplicação, conforme abordado de modo resumido em capítulos anteriores, a Biodança somente deve ser aplicada por didatas ou facilitadores especialmente formados para tanto.

A formação em Biodança proporciona, ao educador biocêntrico, uma importante vivência dos processos de aprendizagem a partir dos postulados da Educação Biocêntrica, para facilitação de grupos. A potencialização, dinamização e integração da identidade de cada pessoa de modo saudável, fortalecendo seus vínculos afetivos consigo, com o outro e com o meio, de modo a proporcionar sua inserção no mundo em toda a sua inteireza, é o propósito da Biodança.

Sessões continuadas de Biodança na organização proporcionam a elevação da auto-estima, fortalecimento da identidade, autonomia, criatividade, estabelecimento de vínculos saudáveis e integrados das pessoas consigo mesmas e com os outros, estimulando, também, as habilidades e competências, tanto relacionais quanto de expressão afetiva e criativa.

Sessões de Biodança estruturam-se no tripé: música-movimento-emoção. A utilização da música para vivências integradoras parte do princípio de que o som, enquanto vibração, movimenta os átomos e moléculas de nosso organismo (Cavalcante, 2001). Daí a ressonância do tipo de música sentida em nosso corpo, proporcionando a expressão de sentimentos e emoções, inclusive corporais, conforme o caso, de alegria, tristeza, amor, raiva, inquietação, vitalidade, sensualidade, amizade sincera, fluidez ou enrijecimento muscular, tremor e sensação de bem-estar.

A Biodança privilegia o saudável enquanto tal, somente utiliza músicas previamente estudadas e selecionadas por didatas, que produzam efeitos benéficos no organismo compreendido dentro do sentido de corporeidade.

A roda enquanto importante meio para a unidade de grupo, muitas vezes é utilizada na biodança para a realização de danças integradoras de expressão e fortalecimento da identidade por meio da vivência que possibilita a expressão de sentimentos de afetividade e criatividade.

Conforme o resultado que se deseja obter, a partir de observações sobre o grupo, em termos de fortalecimento de determinada linha de vivência – vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade ou transcendência –, são utilizadas músicas rítmicas, melódicas ou harmônicas, lembrando que, cada linha de vivência é permeada pelas outras quatro, gerando uma infinitude de suas gradações e variações (Lógica Fuzzy e Fractais – permeabilidade dos limites).

Cavalcante (2001) relata, partindo do princípio da progressividade, quatro etapas para utilização da biodança (música-movimento-emoção) pela Educação Biocêntrica no espaço pedagógico escolar ou organizacional, as quais em conjunto estabelecem no educando a coordenação auditivo-motora e a integração afetivo-motora, objetivando a auto-integração e a integração grupal.

Estas ações criam uma rede neurológica do vínculo afetivo, a partir da vivência integradora, sem excluir as funções cognitivas, a consciência e o pensamento simbólico. As quatros etapas referidas por Cavalcante (2001) são:

1º - criação de sentimento de grupo; vivências de integração ao todo – grupo;

2º - promoção de respostas rítmicas precisas com movimentos mais coordenados e autocontrolados;

3º - promoção de respostas melódicas para introdução de emoções nas respostas motoras. Esta etapa representa um grau avançado no processo de integração neurológica;

4º - promocão da expressão criativa das emoções individuais e grupais por meio do movimento-dança, de movimentos coordenados, sensíveis e expressivos.

Ainda a partir do princípio da progressividade, realizar somente exercícios leves, que não proporcionam regressão de moderada a profunda [1], podem ser utilizados em grupos chamados não regulares e, portanto, podem ser utilizados em grupos nas organizações.
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[1] Exercícios de Biodança que levam à regressão (moderada a profunda) somente são aplicados, em geral, a grupos regulares de aprofundamento – não iniciantes – que já adquiriram um nível de progressividade nos exercícios que lhes permitam tais vivências.

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Fonte: SAMPAIO, Irene Nousiainen. Organização Biocêntrica - emergência de um novo paradigma na administração. Fortaleza, 2005. 116 p. Monografia (Especialização em Educação Biocêntrica - A Pedagogia do Encontro) – Universidade Estadual do Ceará.

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