domingo, 12 de agosto de 2007

Cultura Biocêntrica nas Organizações

O homem é ontologicamente um ser de cultura porque não há humano sem um mundo que lhe faça sentido e isso é natural por ser ontológico. A linguagem constitui a sociabilidade e é ela a condição do homem como animal social.

Tradicionalmente a cultura se opõe à natureza, sendo sempre invenção, o aprendido, o herdado, o adquirido.

A relação estabelecida entre a pessoa e o mundo se dá por meio de seu aparato orgânico biológico que recebe estímulos externos, os processa e transforma em estímulos internos. O estímulo externo em consonância com o estado interno do ser propicia o “ver”, o conhecer, o compreender muitas vezes, coisas que sempre existiram e que passam despercebidas.

Saber apenas não é suficiente. O saber deve ser encarnado, corporeificado, apreendido. É aprender a aprender. Uma consciência vazia é aquela que sabe, mas não faz.

A corporeificação da aprendizagem cognitiva pode ser estimulada através de vivências.
Nas organizações, a promoção de mudanças de algumas crenças e valores profundamente arraigados podem alterar de modo significativo o comportamento das pessoas e os resultados organizacionais.

Para a construção de uma organização biocêntrica, as pessoas que a compõem, primordialmente devem ser mobilizadas, de modo que haja vontade para atuar na busca de um propósito comum, fundado no princípio biocêntrico, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados.
Mais do que “o que fazer” é essencial o “como fazer” que proporcione satisfação (como realizar e para quê), pois a cultura é a aliança entre o que herdamos e o que fazemos dessa herança. Assim, não apenas a herdamos, mas realizamos seu desvelamento e a crítica, ao mesmo tempo, que possibilita a transformação, o reinventar, o fazer diferente.

Esse processo deve ser facilitado por um consultor, um gestor, um facilitador que tenha abraçado (teórica e vivencialmente) a educação biocêntrica, levando em consideração a cultura do educando, não para reforçá-la, mas como entendimento inicial de sua leitura do mundo, compreendendo-se como sujeito da história, através da relação dialógica que consolida a educação como prática da liberdade (Freire, 1996).

Todos sabemos não ser tarefa fácil e nem rápida mudar uma cultura organizacional, pois exige de todos abertura para o novo, vontade e perseverança. A cultura organizacional será tanto mais verdadeira, e por isso conseguirá mais facilmente atingir seus objetivos, quanto mais consonante for com cada pessoa que a integra e vice-versa.

As pessoas quando se encantam por algo tendem a contribuir para sua construção ou manutenção com mais inteireza. E esse encantamento deve ser apropriado e apreendido por cada pessoa a seu tempo e modo, a partir do princípio da progressividade, já tratado anteriormente.

Ainda segundo o pensamento biocêntrico (Cavalcante, 2001), nada é dividido e tudo está integrado relacionalmente em função da vida. Portanto, seus pressupostos teóricos encontram-se na unidade de diversidades entre matéria-energia (Einstein), tempo-espaço (Einstein), sagrado-profano (F. Huxley), ser humano-natureza (Edgar Morin), corpo-alma (Albert Hofman), mente-universo (David Bohm), caos-ordem (Ilya Prigogine; Leonardo Boff), ética-estética (Rolando Toro), determinismo-azar (Jacques-Monod), poder-justiça, indivíduo-sociedade, eu-tu (Martin Bubber), saúde-emoção (Artur Jores), observador-observado (Heinz von Foester), imanência-transcendência (Leonardo Boff).

Em organizações, nas quais se faz necessário o processo de reculturação, este deve ser adequado à realidade e ao interesse dos participantes e dialogado previamente entre todos.

O conhecimento técnico-científico é relevante, porém deve ser reavaliado frente ao princípio biocêntrico, de modo a instrumentalizar a pessoa na contínua valorização da vida.

A aplicação da Educação Biocêntrica nas organizações compreende, em primeira instância, a apreensão, a corporeificação da cultura biocêntrica, segundo a qual, conforme já dissemos, nada é dividido ou compartimentado, tudo está interligado, compondo uma unidade em rede que privilegia a vida em todas as instâncias, a partir da tríade sentir-pensar-agir, ressignificando muitos conceitos, crenças e valores dualistas e cartesianos que encontram-se arraigados em nossa cultura, influenciando nossas atitudes no dia-a-dia.

Sem a mudança do paradigma antropocêntrico para o biocêntrico, as ações envidadas para a construção de uma organização biocêntrica ficam comprometidas, impossibilitando sua implementação, por não proporcionar a vivência primordial de valorização da vida.

A ação do educador biocêntrico na organização pode ir desde um convite a esse novo sentir-pensar-agir até à implementação propriamente dita da cultura biocêntrica e de instrumentais a serviço da valorização da vida, dinamizando, também, os potenciais criativos para a efetivação da ruptura com o antigo.
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Fonte: SAMPAIO, Irene Nousiainen. Organização Biocêntrica - emergência de um novo paradigma na administração. Fortaleza, 2005. 116 p. Monografia (Especialização em Educação Biocêntrica - A Pedagogia do Encontro) – Universidade Estadual do Ceará.

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