sexta-feira, 17 de outubro de 2008

MORRE LENTAMENTE...

"Morre lentamente...
...quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente...
Quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajeto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com que não conhece.

Morre lentamente...
Quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pingos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente...
Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho;
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho;
quem não se permite, uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente...
Quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva incessante,
desistindo de um projeto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre
que estar vivo exige um esforço muito maior
do que o simples ato de respirar...
Estejamos vivo, então!"



Pablo Neruda.

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