quinta-feira, 14 de maio de 2009

SER COERENTE COM O PENSAMENTO BIOCÊNTRICO

O estilo de vida, cultura, visão de mundo, o ser-estar-sentir-pensar-agir que atualmente vem se desenvolvendo com mais substância, coerência em favor da vida como um todo integraliza-se a partir do princípio biocêntrico, ponto de partida para a formação do pensamento ou paradigma biocêntrico.

Este novo modo de viver forçosamente envolve mudanças de paradigmas e, consequentemente, idéias, falas e comportamentos não necessariamente nesta ordem. E as palavras que usamos são um bom balizador de nossas idéias. Por exemplo: quem é pacífico sente enorme dificuldade e até constrangimento em usar palavras com sentido bélico; pessoas com pensamento racional-cartesiano tem dificuldades imensas com vocabulário místico ou religioso, e assim por diante. O contrário, obviamente, também vale.

As palavras que usamos no nosso dia-a-dia falam muito do nosso modo de ser e estar no mundo e nós nem nos damos conta:
- uma linguagem bélica, agressiva, violenta, na qual a vida é uma luta constante, inclui mais presentemente palavras e frases (discussões de sentido à parte), como público-alvo, vou matar ele de beijos, atirei no que vi e acertei no que não vi, atirei o pau no gato, mato um leão por dia, através de (passou por dentro), a conquista do sonho, estou derrotado, lutar pela vida, a vitória de atingir o sucesso, a predominância do mais forte, competição no mercado de trabalho, meu colega-adversário, etc.;
- uma linguagem pacífica conta com expressões e palavras que falam de ponderação, harmonia, entendimento, paz, inclusão, solidariedade, fraternidade, justiça, etc.;
- na linguagem teocêntrica encontra-se muito expressões do tipo: Deus é quem tudo provê, Deus foi quem quis assim, tudo acontece do jeito que Deus quer...;
- a linguagem linear-cartesiana usa muito essas expressões: fundamental (a partir da fundação de onde se ergue linearmente todo o resto), meu intestino funciona como um relógio (hahaha falta só o tic tac), o nível daquela pessoa (patamar, degrau), subir na vida (cadê a ladeira ou escada?), oficina (workshop - um lugar de se consertar algo, pessoas?)
- a linguagem econômica: recursos humanos (desde quando ser humano é ser recurso?), capital humano (piorou), administrar pessoas (pessoas são inadministráveis) ...;

- na linguagem apropriada ao pensamento biocêntrico as palavras coerentes são: universo como um sistema vivo, valorização da vida, natureza, planeta, valores humanos, ética, coerência, afetividade, qualidade de vida (para todos os seres viventes e não apenas os humanos), vivência pedagógica, complexidade, interação, processo, possibilidades, integração, grau, incentivo, cooperação, compartilhar, ser humano, infinitude, caos-ordem, relação, relatividade, contexto, instabilidade, autonomia, respeito, identidade relacional, encontro, diálogo, desenvolvimento complexo, sentir-pensar-agir, interconexão, interatividade, eu-tu-nós-outro(s)-tudo, micro inserido no macro e vice-versa, sinergia, associatividade, círculo de cultura, apreender, ensinante-educando, vivência ontológica, dinamização de potenciais, auto-regulação, auto-poiese, grupos-times, sustentabilidade, comunidade, multidimensional, energia, fluir, dinâmico, liderança compartilhada, consenso, participativo-vivencial, reflexão dialógica, palavras geradoras, vinculação, diversidade, criatividade, geratriz, teórico-dialógico-reflexivo-vivencial, saúde, saúde comunitária, interconexão de conceitos-teorias-práticas-vivências, essencial, por meio de, mediar, facilitar, fractal, corporeidade, promoção de mudanças culturais, desenvolvimento de habilidades e competências, laboratório temático, consultoria de terceiro partido, equidade, equanimidade, multicausalidade, etc... Cada uma dessas palavras têm um sentido tão amplo e profundo que caberia uma dissertação para cada uma delas.

Considerei necessário fazer toda essa preleção por causa do que desejo expor a seguir:

Em geral, quando recebo convites e/ou informações sobre cursos, seminários, vivências, me sinto incomodada com a questão da falta de práticas inclusivas por parte dos realizadores que, na minha opinião, está longe do aceitável. Incomoda-me mais ainda, quando são eventos realizados por pessoas comprometidas (pelo menos demonstram ser) com a proposta biocêntrica.

Creio que a inclusão não venha sendo tão fácil de acontecer por ser necessário um esforço a mais de trabalho que foge da rotina a que se está acostumado. Desenvolver esse olhar inclusivo é essencial para se mudar, ou pelo menos, se adaptar as metodologias existentes para que haja inclusão.

Sugiro, por exemplo, que os realizadores dos eventos procurem pessoas interessadas que tenham os conhecimentos necessários exigidos nos temas em geral veiculados nos eventos pela empresa organizadora, ou pelo grupo, ou mesmo pelo profissional, mas que não têm condições de participar por questões financeiras (ser pobre mesmo) de modo a que integrem listas com seus nomes e contatos para serem convidadas conforme forem ocorrendo os eventos. Fica a critério do organizador, qual percentual sobre o total de pagantes. Essa é uma medida simples, que não vai empobrecer o realizador, inclui e integra socialmente pessoas naturalmente excluídas e enriquece o grupo com a diversidade. Só para esclarecer, não me refiro aqui àquelas pessoas que moram num bom apartamento ou casa e que estão temporariamente desempregadas, ou sem recursos financeiros por um motivo ou outro. Essas em geral são descoladas e sabem chegar na organização do evento que têm interesse, colocar sua situação e obter bons descontos, até mesmo livre.

Os organizadores poderiam também buscar a participação dos deficientes físicos, excluídos naturalmente pela falta de adaptação às suas deficiências.

Para deixar registrado, incomoda-me também os altos preços cobrados por alguns palestrantes e detentores de direitos autorais, etc, pessoas essas ligadas à difusão do princípio biocêntrico de que modo seja. É incoerência!

Tenho certeza que criatividade é o que não falta. O que falta é decisão para mudar, talvez falte força de vontade, talvez falte mesmo coerência com a fala. Não importa. O que importa é atitude.

Quem tiver experiências diversas com a inclusão e quiser compartilhar, poste aqui um comentário ou mande-me um e-mail.

Sabemos ser até relativamente fácil apreender novas idéias e suas palavras embutidas. Mas, mudar comportamento exige consciência, coerência e uma boa dose de esforço.

Um abraço aos amigos leitores.

Irene Nousiainen
Em 14/05/2009

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