
Este novo modo de viver forçosamente envolve mudanças de paradigmas e, consequentemente, idéias, falas e comportamentos não necessariamente nesta ordem. E as palavras que usamos são um bom balizador de nossas idéias. Por exemplo: quem é pacífico sente enorme dificuldade e até constrangimento em usar palavras com sentido bélico; pessoas com pensamento racional-cartesiano tem dificuldades imensas com vocabulário místico ou religioso, e assim por diante. O contrário, obviamente, também vale.
As palavras que usamos no nosso dia-a-dia falam muito do nosso modo de ser e estar no mundo e nós nem nos damos conta:
- uma linguagem bélica, agressiva, violenta, na qual a vida é uma luta constante, inclui mais presentemente palavras e frases (discussões de sentido à parte), como público-alvo, vou matar ele de beijos, atirei no que vi e acertei no que não vi, atirei o pau no gato, mato um leão por dia, através de (passou por dentro), a conquista do sonho, estou derrotado, lutar pela vida, a vitória de atingir o sucesso, a predominância do mais forte, competição no mercado de trabalho, meu colega-adversário, etc.;
- uma linguagem pacífica conta com expressões e palavras que falam de ponderação, harmonia, entendimento, paz, inclusão, solidariedade, fraternidade, justiça, etc.;
- na linguagem teocêntrica encontra-se muito expressões do tipo: Deus é quem tudo provê, Deus foi quem quis assim, tudo acontece do jeito que Deus quer...;
- a linguagem linear-cartesiana usa muito essas expressões: fundamental (a partir da fundação de onde se ergue linearmente todo o resto), meu intestino funciona como um relógio (hahaha falta só o tic tac), o nível daquela pessoa (patamar, degrau), subir na vida (cadê a ladeira ou escada?), oficina (workshop - um lugar de se consertar algo, pessoas?)
- a linguagem econômica: recursos humanos (desde quando ser humano é ser recurso?), capital humano (piorou), administrar pessoas (pessoas são inadministráveis) ...;
- na linguagem apropriada ao pensamento biocêntrico as palavras coerentes são: universo como um sistema vivo, valorização da vida, natureza, planeta, valores humanos, ética, coerência, afetividade, qualidade de vida (para todos os seres viventes e não apenas os humanos), vivência pedagógica, complexidade, interação, processo, possibilidades, integração, grau, incentivo, cooperação, compartilhar, ser humano, infinitude, caos-ordem, relação, relatividade, contexto, instabilidade, autonomia, respeito, identidade relacional, encontro, diálogo, desenvolvimento complexo, sentir-pensar-agir, interconexão, interatividade, eu-tu-nós-outro(s)-tudo, micro inserido no macro e vice-versa, sinergia, associatividade, círculo de cultura, apreender, ensinante-educando, vivência ontológica, dinamização de potenciais, auto-regulação, auto-poiese, grupos-times, sustentabilidade, comunidade, multidimensional, energia, fluir, dinâmico, liderança compartilhada, consenso, participativo-vivencial, reflexão dialógica, palavras geradoras, vinculação, diversidade, criatividade, geratriz, teórico-dialógico-reflexivo-vivencial, saúde, saúde comunitária, interconexão de conceitos-teorias-práticas-vivências, essencial, por meio de, mediar, facilitar, fractal, corporeidade, promoção de mudanças culturais, desenvolvimento de habilidades e competências, laboratório temático, consultoria de terceiro partido, equidade, equanimidade, multicausalidade, etc... Cada uma dessas palavras têm um sentido tão amplo e profundo que caberia uma dissertação para cada uma delas.
Considerei necessário fazer toda essa preleção por causa do que desejo expor a seguir:
Em geral, quando recebo convites e/ou informações sobre cursos, seminários, vivências, me sinto incomodada com a questão da falta de práticas inclusivas por parte dos realizadores que, na minha opinião, está longe do aceitável. Incomoda-me mais ainda, quando são eventos realizados por pessoas comprometidas (pelo menos demonstram ser) com a proposta biocêntrica.
Creio que a inclusão não venha sendo tão fácil de acontecer por ser necessário um esforço a mais de trabalho que foge da rotina a que se está acostumado. Desenvolver esse olhar inclusivo é essencial para se mudar, ou pelo menos, se adaptar as metodologias existentes para que haja inclusão.

Os organizadores poderiam também buscar a participação dos deficientes físicos, excluídos naturalmente pela falta de adaptação às suas deficiências.
Para deixar registrado, incomoda-me também os altos preços cobrados por alguns palestrantes e detentores de direitos autorais, etc, pessoas essas ligadas à difusão do princípio biocêntrico de que modo seja. É incoerência!
Tenho certeza que criatividade é o que não falta. O que falta é decisão para mudar, talvez falte força de vontade, talvez falte mesmo coerência com a fala. Não importa. O que importa é atitude.
Quem tiver experiências diversas com a inclusão e quiser compartilhar, poste aqui um comentário ou mande-me um e-mail.
Sabemos ser até relativamente fácil apreender novas idéias e suas palavras embutidas. Mas, mudar comportamento exige consciência, coerência e uma boa dose de esforço.
Um abraço aos amigos leitores.
Irene Nousiainen
Em 14/05/2009
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